Câmara de Vereadores de SP pode abrir CPI contra o padre Júlio Lancellotti
O pedido de CPI foi protocolado ainda no dia 6 de dezembro de 2023
A Câmara de Vereadores de São Paulo vai abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar ONGs e entidades que fazem trabalho social com pessoas carentes e dependentes químicos na Cracolândia. Um dos alvos é o padre Júlio Lancellotti, que presta diversos serviços sociais para pessoas em situação de rua.
O pedido de CPI foi protocolado ainda no dia 6 de dezembro de 2023 pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL). No total, foram 23 assinaturas no documento registrados no site da Câmara Municipal.
Para a CNN, Rubinho Nunes disse que protocolou a CPI com 25 assinaturas em apenas 30 minutos no plenário, e conta o apoio de muitos vereadores.
“Já tem as assinaturas. Eu protocolei a CPI com 25 assinaturas que eu coletei em 30 minutos no plenário, mas já tem o apoio de mais de 30 vereadores na Câmara e também tenho construído com as lideranças a abertura da CPI já no início do ano legislativa, em fevereiro”, disse à CNN.
Ainda de acordo com ele, também devem ser examinadas “todas as outras que atuam ali no centro que, na minha leitura, compõem a máfia que explora a miséria no centro de São Paulo”.
A CPI precisa ainda ser aprovada em plenário pela maioria da Câmara Municipal para ser efetivamente instalada.
Depois de estourar nas redes sociais, a decisão foi alvo de críticas de muitos moradores de São Paulo e internautas que acompanham o trabalho do sacerdote.
O padre Júlio é coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Igreja Católica em São Paulo, e atua como um agente social, servindo refeições para moradores de rua e realizando outras várias ações humanitárias.
Arquidiocese de São Paulo emite nota
A Arquidiocese de São Paulo diz “acompanhar com perplexidade” a possível abertura da CPI contra o religioso, e entra em defesa do padre, reiterando a importância que essas obras sociais continuem sendo realizadas por ele.
“Acompanhamos com perplexidade as recentes notícias veiculadas pela imprensa sobre a possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que coloca em dúvida a conduta do Padre Júlio Lancellotti no serviço pastoral à população em situação de rua”, diz a nota.
“Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, Padre Júlio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade. Reiteramos a importância de que, em nome da Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade”, afirma a nota.
Uma vida de ações sociais
O religioso atende diversas pessoas carentes em São Paulo. O padre Júlio, na época da pandemia, chegou a dizer que nenhuma paróquia gostaria de ter ele, pois muitos consideravam um “padre maloqueiro”.
Em 2021, o padre protagonizou um momento único, ao quebrar a marretadas os blocos de paralelepípedo colocados, possivelmente, para afastar população de rua na parte inferior de viadutos da Zona Leste da capital paulista.
Durante uma entrevista para um podcast, o padre chegou a dizer que “quem está do lado dos rejeitados, vai ser rejeitado”. O trecho da entrevista foi compartilhado pelo sacerdote em uma rede social.
“Eu não luto para vencer, eu sei que vou perder. Eu luto para ser fiel até o fiel. Um dia uma colega sua perguntou para mim qual era minha perspectiva. Eu falei que minha perspectiva é o fracasso. Porque se nesse sistema eu não fracassar, é porque eu aderi a ele”, diz ele. “Quem tá do lado dos rejeitados, vai ser rejeitado. Quem tá do lados dos que apanham, vai apanhar”, conclui.
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