Religião e Espaço Público: a Procissão do Senhor dos Passos e o sentido do Estado Laico

Na manhã desta segunda-feira, 7 de abril, o comunicador Haroldo Silva, o Dura, utilizou o espaço do quadro Papo Reto, dentro do programa Show do Rádio da Rádio Tubá, para fazer uma observação significativa: mesmo tratando-se de um quadro voltado à política, o destaque foi a expressiva participação popular na Procissão do Senhor dos Passos, realizada no último final de semana em Tubarão. O fato chama atenção não apenas pela grande mobilização de fiéis, mas pelo reconhecimento, inclusive no ambiente político e midiático, da importância social e simbólica dos eventos religiosos.

Esse episódio nos convida a refletir sobre a relação entre a religião e o Estado. É importante recordar que o Brasil é um Estado laico. Isso significa que há uma separação institucional entre as esferas religiosa e estatal, garantindo que nenhuma religião seja imposta ou privilegiada pelo poder público. A laicidade protege a liberdade religiosa, a liberdade de crença e também o direito de não crer.

No entanto, afirmar a laicidade do Estado não é o mesmo que ignorar a religiosidade do povo. O Estado é laico, mas a sociedade brasileira é, em grande parte, profundamente religiosa. As manifestações de fé, como a Procissão do Senhor dos Passos, fazem parte da identidade cultural e espiritual de muitos brasileiros. São expressões legítimas da vivência do povo, e ganham natural visibilidade, sobretudo quando envolvem milhares de pessoas em clima de recolhimento, devoção e solidariedade.

Prova disso é que a 259ª Procissão do Senhor Jesus dos Passos, realizada em Florianópolis, contou com a presença do próprio Governador do Estado de Santa Catarina, Jorginho Mello. Sua participação pública no evento revela que homens e mulheres públicos, mesmo ocupando cargos estatais em um país laico, podem, como cidadãos, viver e expressar sua fé, desde que respeitada a liberdade e a pluralidade religiosa garantidas pela Constituição.

Portanto, quando um comunicador reconhece no contexto político a relevância de um evento religioso, ele não está confundindo os âmbitos, mas registrando o que é visível: a fé do povo continua sendo uma força social mobilizadora. A laicidade do Estado deve garantir que todas as expressões religiosas – e também a ausência delas – sejam respeitadas e possam coexistir num ambiente democrático. Não se trata de afastar a religião da vida pública, mas de assegurar que a participação cidadã não esteja condicionada a nenhuma identidade religiosa específica.

Por isso, eventos como a Procissão do Senhor dos Passos continuam sendo sinais da vitalidade religiosa de nosso povo. E o reconhecimento público disso, inclusive em espaços como o rádio, a política e a mídia, apenas reforça a necessidade de um diálogo respeitoso entre fé, cultura e sociedade, sempre à luz dos princípios democráticos e da liberdade de consciência.

Pe. Rafael Uliano
Diretor da Rádio Tubá